sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A IGREJA NO CONTEXTO URBANO

Ser uma igreja relevante no contexto urbano não é tarefa fácil se considerarmos as transformações que tem ocorrido nas esferas estruturais da sociedade nas últimas décadas no Brasil. É um tempo de mudança de paradigma no modo de pensar a cidade, de perceber as necessidades de ovelhas que não tem pastor.
A vida agitada dos centros urbanos tem gerado na espécie humana todo tipo de deformação: depressão, stress, medo, violência, desemprego, fome, exclusão social, são aspectos que sinalizam que o homem urbano está se dissolvendo.
O crescimento das cidades com o êxodo rural nas décadas de 50, 60 e 70, e subseqüentemente o crescimento econômico fruto da terceira revolução industrial, agregado ao crescimento demográfico, formam o papel de parede de uma sociedade que não se planejou, nem se organizou para o fenômeno que sorrateiramente invadiu a existência humana no fim do último milênio - a Urbanização.
Essa exposição preliminar é apenas para servir de pano de fundo para as questões que serão levantadas sobre a missão da igreja nesse contexto.. O que a igreja tem haver com tudo isso? Qual a missão da igreja diante desses desafios? A igreja está preparada para responder aos anseios da vida urbana?
Confesso sinceramente que não vejo ação consistente, sistemática, que responda aos anseios da vida urbana. Nosso papel tem se limitado a meras ações paliativas. Ações isoladas que não representam um envolvimento comunitário com a missão urbana. Distribuir cestas básicas, celebrar casamentos comunitários, visitar e dar assistência aos presidiários, assistir orfanatos é uma gota d’água no oceano da missão da igreja nos centros urbanos.
Sinto-me desafiado como pastor de uma igreja local, diante do cenário que se descortina em meu ministério no contexto urbano. Em síntese, nossa missão como igreja da cidade no âmbito social tem se limitado a mero assistencialismo. Obviamente que isso nos incomoda profundamente, e nosso desejo é buscar novas ferramentas de abordagens ministerial para a cidade.
Refletindo sobre a inércia da igreja em relação aos tormentos da vida urbana, percebo que talvez nosso problema seja de cunho histórico-teológico, no que tange a mentalidade histórica da igreja evangélica. Pensando bem, não sabemos lançar mão de novas metodologias de abordagens ministeriais para atingir a evangelização do homem urbano. Queremos abordar o homem do século XXI, vivendo um contexto urbano extremamente mutável, com uma velocidade de pensamento impressionante, com um imaginário teológico-metodológico do século XIX. Isso é trágico!
Portanto, se como igreja queremos transformar as estruturas opressoras da vida urbana, necessitamos passar por um processo de transformação na mentalidade da igreja. Paulo diz:”...Transformai-vos pela renovação da vossa mente...”. Não me refiro a metodologias ministeriais importadas, como se fossem a descoberta da roda, falo sobretudo, da construção de um modelo comunitário contextualizado, que contemple o homem na sua integralidade.
O que isso significa? Que uma igreja deformada jamais transformará as estruturas da sociedade. Por isso, há necessidade de termos igrejas saudáveis. Uma comunidade em transformação e transformadora das realidades opressoras da sociedade, que contempla o homem em seu aspecto holístico ou integral.
Na oração sacerdotal Jesus roga ao Pai pela unidade dos discípulos. Jesus certamente estava se antecipando aos problemas históricos que a sua igreja iria se envolver. Portanto, outro aspecto imprescindível para tomada de posição, a fim de restaurarmos a cidade, é a unidade da igreja. Enquanto exercermos nossa missão como “tribos urbanas”, só restará a graça do Senhor por seu povo.
Talvez esteja acontecendo uma revolução imperceptível no cenário da igreja evangélica brasileira, que não nos damos conta ainda. Quem sabe o sistema institucional (denominacional), entrou em colapso sem que os “chefes” da igreja se apercebessem. Uma certeza nós temos, a igreja organismo vivo pertence unicamente ao Senhor, e “as portas do inferno não prevalecem contra ela”.
Bom, para concluir, acredito que o processo de transformação das estruturas da sociedade, passa pelo crivo da transformação das estruturas da igreja, quer seja teológica-metodológica, ou histórica-institucional,. Penso que é um tempo de estabelecer novos paradigmas da missão da igreja no contexto urbano, enquanto comunidade de transformação das estruturas da sociedade, sobretudo do resgate do homem em sua dimensão integral.

3 comentários:

  1. Querido pastor Erasmo. Paz! Que maravilhosa reflexão. Vejo muitas semelhanças entre a sua forma de pensar a missão da igreja e a do último pastor relevante que tive em minha vida, Irailton a quem muito amo. Agradeci muito ao Senhor Jesus pela mensagem do culto de ontem à noite. Eu e Paola estamos em paz, nossa busca findou-se, nossa "quase" angústia pela falta de identificação com "o lugar" acabou. Descobrir que o lugar somos nós e os parceiros apropriados. Será uma bela parceria, estamos preparados para os desafios. Vc tem me abençoado com sua vida e testemunho. Que o SENHOR sustente sempre vc e sua amada esposa Jeine a quem também aprendi a admirar. Estou muito feliz! Glória a Deus! Agora sou presbiteriano, nome bonito, estou me sentindo chique (risos)... presbiteriano não-calvinista kkkkk (Deça me chamaria de herege). Brincadeira. Amigo vou colocar o seu blog na minha lista para divulgá-lo mais. Deus te abençoe. Abraço!

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  2. rapaz...soldado, fui edificado com essa reflexão. Vou até distribuir cópias dela aos meus alunos de um Curso Básico em teologia que implementei aqui na igreja em Alagoinhas. Continue, precisamos de reflexões assim.

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  3. uma dica, leia a reportagem da revista época desta semana: "A Nova Reforma Protestante", tem muito a ver com o que vc escreveu

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