quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

VÍCIOS POLÍTICOS NA VIDA DA IGREJA

“Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo” (Mt 20.25-27).


“Se dar bem sempre e tirar vantagem em tudo” é a chamada Lei de Gérson que estigmatizou a cultura brasileira. O problema é mesmo cultural, vem das raízes da colonização e da formação do Estado brasileiro. Um país que possuiu Senhores de Engenho, Coronéis e Ditadura Militar não poderia cultivar na sua alma outra coisa senão os abusos do mandonismo e da arbitrariedade de sua classe política. Será por isso que a maioria dos meus colegas pastores acha a democracia o pior dos governos? E não será por isso que a igreja evangélica brasileira está caminhando, cada vez mais, para regimes monárquicos do que os do diálogo e consenso?

Há quem defenda que o certo seria a igreja adotar a teocracia, que era a forma de governo que Deus tinha para com Israel. Porém, estes que argumentam assim, não percebem a transição radical entre os dois testamentos e o “salto qualitativo” em termos de espiritualidade entre Velha e Nova Aliança(assunto que tratarei em um post futuro). Em nenhum texto neotestamentário encontra-se respaldo para um modo de viver da igreja adotando um modelo de poder do VT; pelo contrário, o que vemos é a individuação do cristão no exercício de seu sacerdócio para com Deus, por meio de Cristo. Paulo fala de uma “liberdade em Cristo” (Gl 2.4, 5.1, 13); pena que a igreja só entenda tal liberdade somente a de espíritos malignos, do pecado e do “mundo” e não de consciência. Lutero, em parte, ainda tentou resgatar isso com a “descoberta” do sacerdócio de todos os santos, que o fez arvorar a bandeira de um poderoso movimento de luta pela liberdade; mas isto está esquecido nas mais densas brumas do passado.

A igreja faz parte da história e nela também vive influenciada. Exemplo disso é o fato do cristianismo do ocidente já ter sido império no medievo, ter herdado a institucionalização e a burocracia das entidades civis, pra não dizer que, hoje, se submete à lógica de mercado, à divisão de classes, ao consumo e louvor ao capitalismo. Práticas estas que são contrárias aos ensinamentos de Jesus e dos princípios do Novo Testamento. Na minha opinião, boa parte do pastorado brasileiro tornou-se um projeto de classe aristocrata, burguesa e política com todos as benesses que esta posição pode exaurir, sem nenhuma proposta alternativa ao estilo de vida de privilégios, desigualdade e exploração que estão aí desde a fundação da nação.

Como na sociedade, a igreja é um lugar propício de possibilidades de relações políticas; os que tentam defender a tese de que o fazer eclesiástico é isento de política, caem na ingenuidade de acreditar que a política pode ser retirada da vida. Ora, Aristóteles já dizia no sec. V a.C., o homem é zoo politikon, “o homem é um animal político”, porque vive nas relações, e estas demandam uma prática política com toda a sua lógica que lhe é peculiar. Em qualquer lugar onde haja pessoas, e isto inclui a igreja, temos a necessidade de argumentação, debate e discussão. A igreja é a comunidade dos santos, mas também é uma unidade política da qual o indivíduo faz parte; nela há relações de poder, de interesse, hierarquia e partidos, principalmente aquelas que adotam o governo democrático com assembléias e deliberações pelo voto.

Do cenário político brasileiro listaremos apenas os vícios onde vemos uma identificação clara com as práticas de alguns líderes eclesiásticos da igreja brasileira:

1. Coronelismo. Símbolo de autoritarismo e impunidade. Expediente corriqueiro em algumas igrejas brasileiras; pastores exercem atitudes de mando, achando que detém o poder de vida e morte sobre as pessoas, amaldiçoando-as ou abençoando-as como bem lhes convier. É preciso lembrar-lhes que a autoridade que eles exercem sobre as pessoas é limitada, uma vez que quem está em Cristo já é abençoado (Ef 1.3) e não pode ser amaldiçoado (Nm 23.23; Ez 18; Gl 3.13; Tg 3.10). Além do que, o apóstolo Pedro ordenou que quem pastoreia não deve ser dominador do rebanho(1Pe. 5.2,3).

2. Clientelismo. Relação política onde uma pessoa recebe de outra proteção ou privilégios ou obtenção de benefícios em troca de apoio incondicional. Como nota característica o cliente fica em total submissão ao patrão, independentemente de com este possuir qualquer relação familiar ou empregatícia. Esta é uma prática corriqueira em algumas denominações em época de eleição. Conforme a recompensa, o pastor se torna um verdadeiro cabo eleitoral, manipulando o rebanho para o voto no candidato/partido patrão.

3. Dinastia. Pastores que constroem impérios eclesiásticos, com altas somas na arrecadação, não querem abrir mão destes e acabam convencendo os filhos a continuarem a linha sucessória, herdando a herança; um bom exemplo bíblico a não ser seguido é Diótrefes (3 Jo. 1.9).

4. Patrimonialismo. “Esta é a minha igreja e estas são minhas ovelhas” é o refrão dos tais. Pastores também confundem o público com o privado, ou seja, pensam ser dele o que é do povo; Propriedades e contas bancárias da igreja acabam se tornando patrimônio pessoal. Daí, o fato de alguns líderes se desligarem de suas convenções e fundarem ministérios independentes. Os tais alegam divergência de administração ou de visão, mas na verdade eles se convencem de que são donos da igreja; No entanto, a única pessoa que tem direito de usar os pronomes possessivos “minha igreja” e “minhas ovelhas” é Jesus (Mt 16.18; Jo 10.14,27); Paulo, quando se referia à comunidade dos crentes dizia “a igreja de Deus” (Atos 20.28; ICo 1.2; 10.32; 11.16; 2Co 1.1; Gl 1.13; 1Tss 2.14; 2Tss 1.4; 1Tm 3.15) e quando se referia aos próprios crentes dizia “servo alheio” (Rm 14.4) ou “servos de Cristo” (Ef 6.6) numa clara consciência de que não possuía poder patrimonial sobre eles.

5. Nepotismo. Pastores também “empregam”, com benesses, seus parentes em cargos eclesiásticos. Há igrejas que sustentam não só a família do pastor, o que é bíblico e justo, mas todos os seus parentes e aderentes. Estes são incentivados a assumirem algum cargo eclesiástico para justificar a renda. Daí pode-se vislumbrar que existe muita gente no ministério, executando funções sem vocação alguma, apenas como estratégia de tudo “ficar em família”.

6. Personalismo. O personalismo se caracteriza pela exacerbação do culto a si ou das ações pessoais, frente ao conjunto dos seus liderados. O líder imprime sua marca frente à igreja, onde esta passa a viver em torno de sua “persona” e não dos ideais do Reino. Não é preciso muito esforço para perceber o culto à personalidade em alguns líderes eclesiásticos no Brasil, onde páginas na internet, folders, cartazes, botons e banners gigantes são veiculados com as estampas de seus sorrisos;

7. Caudilhismo. O caudilho é o líder que se perpetua no poder seja por consecutivas reeleições ou por mandato vitalício. Em geral ele é autocrático e carismático ao mesmo tempo e detém uma relação estreita e emocional com seus adeptos apesar de sempre legislar em causa própria ou de particulares. Seu carisma, embora nem sempre transferível em caso de sua morte, pode ser estendido para parentes, como esposa e filhos. O caudilho sempre prefere a ditadura à democracia.

Aqui, cabe um pouco de humor: "Atenção, o que foi escrito acima é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a igreja é mera coincidência".

É difícil ser cristão com essa brasilidade. O país precisa de uma revolução ética, não somente entre a classe política, mas no povo em geral. Além desses vícios políticos, praticados anos a fio no Brasil, poderíamos apontar outras distorções parecidas no meio eclesiástico que ferem até mesmo a prática civil, como por exemplo, o desvio de finalidade de dízimos e ofertas, onde os quais deveriam ser revertidos para a comunidade, são usados para fins nada espirituais. E na onda da megalomania de políticos que constroem castelos, temos líderes que - seguindo uma teologia ultrapassada do Velho Testamento, na qual Deus “mora” num determinado lugar construído - utilizam-se do falacioso argumento salomônico: “um palácio para Deus”, ou outro mais enganoso ainda: “um grande Deus, merece um grande templo”, para construírem verdadeiras “Torres de Babel”, que estão mais para tornarem seus nomes célebres sobre a terra (Gn 11.4), do que para qualquer propósito do Reino de Deus. Estes estão totalmente na contramão da verdade que Tiago expressou em sua defesa contra o Sinédrio afirmando que “o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens” (Atos 7.48).

Diferente da “igreja primitiva” que vivia uma revolucionária “contracultura” contestando os valores vigentes do Império, vida política e vida eclesiástica estão cada vez mais numa relação simbiótica no Brasil. Muitas igrejas, na sua administração, estão politicamente incorretas, influenciadas pelas origens de nossa história. Outro aspecto dessa relação é que a igreja é pública - pois se enquadra na natureza de associação do Código Civil – porém, muitas delas não são transparentes nos seus negócios, incluindo aí os movimentos para-eclesiásticos e ministérios afins. Muitos líderes se aproveitam da situação de isenção legal e da autonomia que a igreja usufrui ante o Poder Público, arvorados na subserviência de seus membros em não exercer nenhuma espécie de fiscalização ou contestação de seus feitos, a maioria não dá satisfação do que fazem com o dinheiro arrecadado e nem das decisões que tomam, por mais arbitrárias que sejam; além do que, não publicam nenhum relatório em nenhuma mídia(denuncia que já fiz em outro post), qualquer que seja. Ora, é fato que a publicidade dos atos, é pré-requisito para um ministério íntegro. Mas transparência é tudo o que alguns líderes não querem tal qual uma boa parte de deputados e senadores. Pelo menos o governo faz uma média permitindo um site como o Transparência Brasil (http://www.transparencia.org.br) e, neste quesito, ele leva vantagem sobre a igreja que não tem a quem dar satisfação.

Prova do que aqui está escrito são as chamadas “verbas ocultas” amparadas pela aprovação da última lei eleitoral onde, prestar contas da arrecadação e do destino das verbas de campanha foi proibida, ou seja, a lei não permite que o eleitor saiba quem financia, quanto e onde é usado o dinheiro, pelo menos até o dia da eleição. Ora, num lugar secreto e sem controle só há cultivo e fomento de abusos. Por isso, sempre reelegemos até aqueles que, acusados de todo tipo de crime político, estão "se lixando para a opinião pública".

No caso da igreja, o problema é que por alguns, todos pagam. Com tanto em comum com a politicagem brasileira, não é a toa que as representações sociais sobre a pessoa do pastor é das piores possíveis. Ele é sempre visto como um aproveitador, mercenário, trambiqueiro, um representante oficial de negócios escusos, embora um grande número sejam realmente "homens de Deus", que procuram a realização de seus ministérios honestamente. O fato é que, tal qual a imagem do Senado, a dos líderes da igreja brasileira precisa ser resgatada "pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo" (Jd 1.4). As pessoas precisam ver em nós, não um lobo com peles de ovelhas ou um mercenário prestes a tirar-lhes o último tostão, mas homens comprometidos com os valores do Reino, dispostos a servir a humanidade, como o exemplo do Mestre.

Por fim, da parte dos membros, assumirem uma atitude acrítica e submissa diante desse quadro, sob o pretexto de que, de outra maneira serão estigmatizados pelo líder como “rebeldes”, “desobedientes” e “endemoninhados” é, no mínimo, ingenuidade, para não dizer burrice. Resta-nos acreditar que um dia o Brasil vai consolidar-se como um país verdadeiramente democrático sem a corrupção e a desigualdade que corrói o povo como câncer; que as próximas gerações alcancem instituições honestas, transparentes e confiáveis, para que a igreja também seja beneficiada enculturando tais práticas. Por enquanto, resta-nos orarmos dizendo “Deus salve a nossa pátria e as nossas igrejas também”.

domingo, 31 de outubro de 2010

REFORMA PROTESTANTE: CAMINHOS E (DES)CAMINHOS DA IGREJA

Por Erasmo Carlos


A Reforma Protestante para ser compreendida faz-se necessário estudar o imaginário da sociedade européia da baixa idade média, período compreendido entre os três últimos séculos do medievo. Embora Lutero tenha afixado as 95 teses na porta do castelo de Wintemberg na Alemanha, em 31 de outubro de 1517, portanto, no século XVI, entretanto desde o século XII, profundas transformações vinham ocorrendo nas relações sociais daquela sociedade.
Foram condições políticas, econômicas, religiosas, sociais e artísticas que foram sendo alteradas ao longo de três séculos que modificaram a estrutura religiosa do velho mundo. Para Timothy (1993, 26) “ Perto do fim da Idade Média, a ansiedade da culpa e da condenação predominou”. Esse período ficou marcado por pelo menos três tipos de ansiedade, morte, culpa e perda de sentido afirma Timothy. Esses temas serão retratados na literatura, arte e teologia.
Na baixa Idade Média há um profundo desespero por respostas que satisfaçam às necessidades emocionais e espirituais de uma sociedade amedrontada pelo juízo de Deus. Numa sociedade assim, existe um campo fértil para a esperança. Foi exatamente aqui, que os reformadores perceberam as condições para propor uma alternativa. Uma perspectiva diferente, um olhar totalmente autônomo daquele estado de coisas. A doutrina da justificação pela fé e seu novo olhar sobre a eclesiologia, falaram profundamente as concepções de seu tempo, afirma Timothy.
A Reforma Protestante foi gerada em um ambiente “de desassossego mórbido com o sofrimento e a morte” na sociedade européia dos séculos XIV e XV. A crise agrária gerava conflitos entre camponeses e donos de terras, a peste bubônica ou peste negra assolou a Inglaterra nos idos de 1349, arrasando pelo menos um terço da população de toda Europa. No século XVI outra peste, a sífilis, atacou os europeus. Uma doença trazida pelos marinheiros de Cristóvão Colombo, afirma Timothy. Tudo isso, somado a descoberta do canhão de pólvora, transformou a guerra numa nova selvageria. O sentimento de incerteza quanto a vida na terra empurrou aquela sociedade a buscar inexoravelmente toda espécie de expiação de sua própria culpa.
O imaginário coletivo daquele povo foi forjado durante toda Idade Média por uma igreja que tinha se desviado do caminho do Senhor ao longo dos séculos do medievo. Muitos pecadores no afã de seus pecados serem perdoados ou expiados recorriam aos sacramentos e parassacramentos autorizados pela própria igreja medieval: Indulgências, peregrinações, relíquias, veneração dos santos, o rosário, dias de festa, adoração da hóstia consagrada, a repetida reza do “pai-nosso” – tudo isso era parte de um sistema de penitências mediante o qual se assegurava uma maneira apropriada de estar perante Deus, afirma Timothy.
Nem mesmo as crianças escapavam das garras do clero. A partir dos sete anos, idade considerada de responsabilidade, apresentava-se ao padre e recitava o pai nosso e o credo e depois respondia a diversas perguntas. Em tudo isso está o desejo de aliviar a culpa que permeava aquela sociedade adoecida espiritualmente e sedenta da graça de Deus. Aquela sociedade estava tão impregnada da idéia de culpa, morte, inferno e paraíso que Timothy George (1993, 31) assim se expressa:
Um dos portais da igreja na catedral de Mogúncia descreve
o juízo final: Cristo, o juiz, está no topo, os redimidos estão sendo levados
por anjos para o Paraíso, enquanto os amaldiçoados, com rostos contorcidos,
estão sendo transportados acorrentados por demônios para o inferno.

Assim sendo, poderíamos afirmar que essas foram em linhas gerais os pré-requisitos da Reforma, ou seja, os reformadores foram capazes de ler a alma daquela sociedade e responder às suas angústias, redescobrindo os princípios de Deus revelados em sua Palavra. A sede por Deus, o desespero por aplacar a ira divina era tamanha que o povo fazia tudo que fosse necessário para aliviar a ira desse Deus faminto por justiça.
A crise de identidade e autoridade pela qual passava a igreja medieval era outro aspecto somado a toda ansiedade da qual já mencionamos, que influenciaram consideravelmente o movimento de reforma. Aquele modelo de igreja foi posto em dúvida, questionado. Nenhum dos teólogos do medievo se preocupou com o estudo sistemático da natureza, função e ministério da igreja. Portanto, naquele momento os reformadores encontraram campo fértil para redesenhar toda fundamentação da existência da igreja do Senhor.
Assim sendo, aquele contexto propiciou um novo paradigma de igreja, moldado pelo espírito reformador da época. Uma igreja mais democrática, com a face de cada Estado Nacional. Os séculos XIV-XV geraram um ambiente de efervescência sem precedentes na história da humanidade na Europa. No colapso da sociedade medieval geraram-se as condições para o surgimento da modernidade e um novo caminho para a igreja do Senhor.
Os séculos se passaram e a Reforma Protestante do século XVI continua suscitando questões intrigantes relacionadas a natureza, função e ministério da igreja contemporânea. A igreja evangélica brasileira vive uma crise profunda de identidade e autoridade. As conquistas oriundas do movimento de Reforma no século XVI, parece está sendo negociadas em nossos dias. O sacerdócio universal dos crentes deu lugar à afirmação de um clericalismo adoecido. Nos últimos vinte anos de história da igreja evangélica brasileira tem sido marcado por escândalos envolvendo lideranças nacionais.
As indulgências e relíquias são redesenhadas na forma de mercadologização do sagrado, do evangelho, da fé nas comunidades locais. A sede pelo poder tem conduzido pastores, bispos e apóstolos a disputarem um lugar no parlamento municipal, estadual e ou federal, com um discurso triunfalista de “salvadores” da pátria.
A teologia da prosperidade imprime uma dinâmica de barganha, de negociação com Deus na relação com o sagrado. Jesus Cristo ficou reduzido a resolver problemas de dores de cabeça, no braço, na costa, na virilha, no dente, numa relação puramente utilitarista da fé. O púlpito está vazio de mensagens expositivas e centradas na pessoa de Jesus Cristo e cheios de chavões, clichês. Líderes arrogantes, prepotentes, negociadores da palavra de Deus, avarentos, presunçosos, amantes do dinheiro. As instituições denominacionais com prazo de validade vencido. Disputa pelo poder, por ovelhas, por grandes igrejas, por dinheiro. Tudo isso suscita uma enxurrada de questionamentos quanto a necessidade de uma nova Reforma.
A igreja contemporânea estaria se prostituindo? Será que perdemos o caminho ou nos perdemos no caminho? Será que a igreja dobrou os joelhos diante do sistema mundano? Que lições podemos extrair quando olhamos pelo retrovisor da história da igreja?
A história da igreja tem muito a nos ensinar. Aprendemos inclusive com os erros daqueles que foram instrumentos nas mãos do Senhor. A igreja constrói seu caminho na história e nesse sentido, Deus tem todo controle da caminhada de seu povo. A sede dos reformadores era por uma igreja pura, imaculada, comprometida com os valores do Reino de Deus. Esse deve ser nosso maior desejo, ansiar caminhar pelo caminho da santidade, da fidelidade, do serviço, da humildade.
O dia 31 de outubro nos faz olhar para o passado com a convicção de que a Reforma Protestante foi uma resposta de cristãos sinceros desejosos em transformar a realidade espiritual de sua época em um movimento de retorno às Escrituras. Nesse sentido, a igreja vive sempre em busca de reforma. Em cada momento da história os cristãos são desafiados a responderem às inquietações de seu tempo.
Necessitamos urgentemente repensar nosso engajamento na sociedade, redesenhar nossa missão no mundo, redescobrir os princípios de simplicidade e pureza do Reino de Deus. A despeito da malignidade do mundo, a igreja enquanto corpo de Cristo é peregrina. Caminha pelo deserto da história dependendo exclusivamente da Graça de Deus. Suas lutas, seus dilemas, suas frustrações, suas incertezas, são vencidas no enfrentamento diário. Que Deus tenha misericórdia de seu povo.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A IGREJA NO CONTEXTO URBANO

Ser uma igreja relevante no contexto urbano não é tarefa fácil se considerarmos as transformações que tem ocorrido nas esferas estruturais da sociedade nas últimas décadas no Brasil. É um tempo de mudança de paradigma no modo de pensar a cidade, de perceber as necessidades de ovelhas que não tem pastor.
A vida agitada dos centros urbanos tem gerado na espécie humana todo tipo de deformação: depressão, stress, medo, violência, desemprego, fome, exclusão social, são aspectos que sinalizam que o homem urbano está se dissolvendo.
O crescimento das cidades com o êxodo rural nas décadas de 50, 60 e 70, e subseqüentemente o crescimento econômico fruto da terceira revolução industrial, agregado ao crescimento demográfico, formam o papel de parede de uma sociedade que não se planejou, nem se organizou para o fenômeno que sorrateiramente invadiu a existência humana no fim do último milênio - a Urbanização.
Essa exposição preliminar é apenas para servir de pano de fundo para as questões que serão levantadas sobre a missão da igreja nesse contexto.. O que a igreja tem haver com tudo isso? Qual a missão da igreja diante desses desafios? A igreja está preparada para responder aos anseios da vida urbana?
Confesso sinceramente que não vejo ação consistente, sistemática, que responda aos anseios da vida urbana. Nosso papel tem se limitado a meras ações paliativas. Ações isoladas que não representam um envolvimento comunitário com a missão urbana. Distribuir cestas básicas, celebrar casamentos comunitários, visitar e dar assistência aos presidiários, assistir orfanatos é uma gota d’água no oceano da missão da igreja nos centros urbanos.
Sinto-me desafiado como pastor de uma igreja local, diante do cenário que se descortina em meu ministério no contexto urbano. Em síntese, nossa missão como igreja da cidade no âmbito social tem se limitado a mero assistencialismo. Obviamente que isso nos incomoda profundamente, e nosso desejo é buscar novas ferramentas de abordagens ministerial para a cidade.
Refletindo sobre a inércia da igreja em relação aos tormentos da vida urbana, percebo que talvez nosso problema seja de cunho histórico-teológico, no que tange a mentalidade histórica da igreja evangélica. Pensando bem, não sabemos lançar mão de novas metodologias de abordagens ministeriais para atingir a evangelização do homem urbano. Queremos abordar o homem do século XXI, vivendo um contexto urbano extremamente mutável, com uma velocidade de pensamento impressionante, com um imaginário teológico-metodológico do século XIX. Isso é trágico!
Portanto, se como igreja queremos transformar as estruturas opressoras da vida urbana, necessitamos passar por um processo de transformação na mentalidade da igreja. Paulo diz:”...Transformai-vos pela renovação da vossa mente...”. Não me refiro a metodologias ministeriais importadas, como se fossem a descoberta da roda, falo sobretudo, da construção de um modelo comunitário contextualizado, que contemple o homem na sua integralidade.
O que isso significa? Que uma igreja deformada jamais transformará as estruturas da sociedade. Por isso, há necessidade de termos igrejas saudáveis. Uma comunidade em transformação e transformadora das realidades opressoras da sociedade, que contempla o homem em seu aspecto holístico ou integral.
Na oração sacerdotal Jesus roga ao Pai pela unidade dos discípulos. Jesus certamente estava se antecipando aos problemas históricos que a sua igreja iria se envolver. Portanto, outro aspecto imprescindível para tomada de posição, a fim de restaurarmos a cidade, é a unidade da igreja. Enquanto exercermos nossa missão como “tribos urbanas”, só restará a graça do Senhor por seu povo.
Talvez esteja acontecendo uma revolução imperceptível no cenário da igreja evangélica brasileira, que não nos damos conta ainda. Quem sabe o sistema institucional (denominacional), entrou em colapso sem que os “chefes” da igreja se apercebessem. Uma certeza nós temos, a igreja organismo vivo pertence unicamente ao Senhor, e “as portas do inferno não prevalecem contra ela”.
Bom, para concluir, acredito que o processo de transformação das estruturas da sociedade, passa pelo crivo da transformação das estruturas da igreja, quer seja teológica-metodológica, ou histórica-institucional,. Penso que é um tempo de estabelecer novos paradigmas da missão da igreja no contexto urbano, enquanto comunidade de transformação das estruturas da sociedade, sobretudo do resgate do homem em sua dimensão integral.

terça-feira, 13 de abril de 2010

A SÍNDROME DO FALSO "EU"

Pedro sempre foi um discípulo ousado na acepção da palavra, talvez por que fizesse parte do círculo mais íntimo de Jesus (Pedro, Tiago e João), logo se destacou como liderança no colegiado de apóstolos. Esteve presente no monte da transfiguração Mc. 9:2, foi testemunha da glória de Deus ali revelada, quando ouviu a voz que ecoou: “... Este é o meu filho amado em quem me comprazo”. De acordo com João 1:42, Jesus deu a Simão o apelido de “Pedro”, “a Rocha” ou Pedra. Tanto a versão grega (Pedro) como a aramaica (Cefas) significava a Rocha.
Com a ascensão de Jesus em Atos 1:9 Pedro assume definitivamente a liderança do grupo, 1:15;2:14. Simão era um pescador com seu irmão André ambos eram da mesma cidade, Betsaida, na margem norte do mar da Galiléia (João 1:44), porém mais tarde fixa seu lar em Cafarnaum (Mc.1:21,29), na margem noroeste do lago.
Era um galileu, e portanto, aguardava ardentemente a vinda do messias libertador, que viria para liberta-los das opressões romanas. A prova disso é que quando João, o Batista apareceu pregando no deserto da Judéia, atraiu para si muitos galileus que imediatamente foram ao seu encontro, sendo Simão e André alguns deles.
Pedro que andou com Jesus, testemunhou coisas grandiosas e extraordinárias, (como milagres, curas e prodígios), no entanto, escondia por trás daquela coragem e ousadia a síndrome do falso “eu”. Quando não somos o que pensamos ser geramos frustrações e conflitos em nossa relação com Deus e com os irmãos.
Analisando a vida de Pedro em sua relação com Jesus e com os apóstolos, percebe-se certa tensão, vivida pelo apóstolo, entre o mundo real e o ideal. A mesma tensão acontece conosco. As vezes não somos o que gostaríamos de ser. Muitas vezes impomos sobre nós um padrão de espiritualidade inalcançável, inatingível, seria esse o problema de Pedro? Talvez o problema dele residisse no fato de não reconhecer em si, a presença do “falso eu”.
Querer andar sobre as águas, responder todas as questões apresentadas por Jesus, não o tornava melhor do que os outros discípulos, pelo contrário, revelava a necessidade de ser útil e de aparecer que apenas Pedro sabia.
O falso eu é um hipócrita, é um ser contraditório, complexo, afirma uma tese, mas dependendo do contexto ele a nega veementemente. Quanta gente já traiu seu pastor, sua liderança, sua própria família, dando lugar ao impostor que ardilosamente manifestou-se nas relações humanas.Não posso negar que dentro de mim há um conflito de interesses, ora sou conduzido pelo verdadeiro eu a fazer a vontade do Pai celestial, ora sou assaltado pelo falso eu, e então exclamo: miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Talvez você esteja sentindo-se o pior de todos os seres humanos, por não ter conseguido conviver com esse dualismo, mas Deus manifestou-se em Jesus para liberar Graça sobre Graça em sua vida. Onde o pecado abundou, superabundou a Graça do Senhor.
Acontece um fato na vida de Pedro que o marcará para sempre e este episódio aconteceu, antes mesmo de Jesus ser preso no jardim do Getsêmani.
Jesus estava reunido com seus discípulos no monte das oliveiras conversando e em meio ao diálogo, Jesus cita o texto de Zc.13:7 “Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas”, e ainda afirmou o mestre “...depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galiléia”, Mt.26:31-37. Então, Pedro se inter-pós ao diálogo do mestre e disse: “Ainda que venha a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim”, e mais “Ainda que seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei...”, afirma a fonte de Mateus e Marcos. Lucas, no entanto, acrescenta na fala de Pedro o seguinte “... Senhor estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão como para a morte”, Lc.22:33. E o mestre diante daquela declaração falsa, triunfalista e ingênua, arremata: “...nesta noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes”.
Bom, a fala de Pedro revela em primeiro lugar o caráter revolucionário dos galileus que esperavam a manifestação do Messias libertador. No imaginário do discípulo galileu pairavam pensamentos de resistência ao domínio romano, talvez por isso tenha reagido daquela maneira. Em segundo lugar na afirmação dele (Pedro) há uma nítida incompreensão da proposta do Reino de Deus ensinada por Jesus ao longo de sua caminhada. No evangelho de Jesus não existe espaço para revanchismo, para militância de guerrilha armada. Os doze apóstolos não se caracterizavam como um movimento social, que buscavam transformar a realidade a partir do confronto com as forças do Estado.
Pedro demonstra com sua atitude não reconhecer em si mesmo a presença do falso “eu”. Ele não se dá conta de estar sendo traído por sua declaração falsa. Toda tese afirmada no monte das oliveiras por ele, de ser preso, de morrer por Jesus, de nunca o negar, será negada no pátio da casa de Caifás, sumo sacerdote, gerando no coração de Pedro frustração e angústias, mas também uma certeza – ser discípulo de Jesus é muito mais do que fazer declarações triunfalistas, é antes, assumir a consciência do impostor que vive em nossa existência e submete-lo ao senhorio de Jesus.
O entendimento de uma vida cristã liberta das sombras, das imagens falsas, das palavras de efeito, dos chavões, nos tornam autênticos, verdadeiros e livres para seguir a Cristo. O grande desafio da igreja brasileira é autenticidade. Não podemos viver em casa um evangelho diferente daquele que vivemos na igreja. O Reino de Deus não é uma peça teatral, onde os atores (igreja) encenam no palco da caminhada histórica (tempo) uma peça que é completamente antagônica à prática cotidiana.
Fico pensando nas sombras que construímos ao nosso redor, na falsa imagem que temos de nós mesmos, isto é uma armadilha. Quantos irmãos estão desviados, afastados, distantes da igreja, simplesmente por terem vivido uma vida cristã fundamentada em imagens falsas, em sombras ao redor de si. Muitos se frustraram, se desiludiram e nunca conseguiram superar a frustração. Crentes que estão me ouvindo agora que mesmo estando na igreja, estabeleceram um padrão de santidade tão elevado que nunca conseguirão atingi-lo, e portanto viverão carregando tristezas sobre tristezas em si mesmos.
Tanto Pedro quanto os outros apóstolos viveram situações que revelaram o caráter frágil de sua vida. Nossa existência revela rachaduras de todos os níveis no edifício da vida. As estruturas de nossa vida foram abaladas pela queda, por isso, transitamos entre o eu verdadeiro (nova natureza em Cristo) e o eu falso (velha natureza caída). A caminhada cristã em certo sentido é uma tensão constante entre o mundo ideal e o mundo real. Quando tomamos consciência dessa tensão, desse conflito eterno, nos fortalecemos como pessoa, como discípulos, como crentes, porém, o outro lado da moeda, ou seja, a falta dessa consciência, é uma vida de falsas expectativas, de ilusões, de máscaras.
A vida cristã tem que ser vivida na dependência completa de Jesus. Sua graça revelada nas escrituras é o único elemento que nos sustenta na relação com o Pai e nos relacionamentos inter-pessoais. Na igreja nos amamos pela graça, nos perdoamos pela graça, exercemos misericórdia pela graça, nos submetemos uns aos outros pela graça, reconhecemos as autoridades eclesiásticas e as respeitamos pela graça, pastoreamos o rebanho do Senhor pela graça. Portanto, se não fosse à graça de Deus revelada em Jesus, tudo isso seria impossível, e mais, nada acontece por nosso mérito, tudo é pura bondade de Deus operada em sua igreja.
A síndrome do falso eu é uma realidade em nossa existência, todos carregamos o sinal da deformação e por isso, não devemos considerar o diferente pior ou melhor do que nós. Para Brennan Mannin, escritor americano com vários livros publicados em português pela Mundo Cristão, “Impostores se preocupam com aceitação e aprovação. Por causa da necessidade sufocante de agradar os outros, não conseguem dizer não, com a mesma convicção que dizem sim”. Quando vivemos conduzidos pelas sombras que produzimos sobre nós mesmos, nos tornamos escravos das falsas idéias, das ilusões da vida.
Pedro projetou uma imagem sobre si completamente falsa, ilusória, mentirosa. Ele não percebeu o impostor impregnado em sua existência, e por isso afirmou coisas impossíveis dele mesmo fazer ou realizar. Jesus sabia que aquela imagem projetada por Pedro era falsa, por isso tratou logo de dissipá-la “hoje mesmo me negarás...”. Como discípulos devemos projetar uma imagem que reflita sua glória em nós. A glória do discípulo é a imagem de seu mestre. O impostor precisa ser desmascarado, denunciado, detectado, a fim de que tenhamos uma vida cristã sadia e fortalecida pela graça de Jesus.
Para Tomas Merton “Cada um vive à sombra de uma pessoa ilusória: o falso eu”. O verdadeiro discipulado focaliza na vida do discípulo a imagem da glória do Filho de Deus. Ele é tudo em todos. Jesus veio revelar Deus como é e todo homem como deveria ser.
Nesse sentido, Ele veio devolver para o homem a glória perdida no jardim do Édem, imagem e semelhança de seu Criador. Fora disso o impostor reina triunfantemente no palco das falsas idéias, das sombras, da ilusão, da fumaça que se dissipa com o tempo. Para Protágoras filósofo da phisys, na grécia antiga “o homem é a medida de todas as coisas”, portanto, ele é a glória dele mesmo, tudo gira em torno dele próprio, este pensamento é ardiloso na medida em que distancia o homem de seu Criador. Desloca a imagem do Deus Invisível para a pessoa visível. Jesus veio restaurar essa imagem perdida.
A síndrome do falso “eu” se manifestou na vida de Pedro naquele encontro no monte das oliveiras. Quando afirmou coisas sobre sua relação com Jesus que não eram verdadeiras, quando projetou uma imagem falsa sobre seu caráter, quando tentou impressionar seus companheiros de ministério, com uma coragem e intrepidez irreal. A atitude de Pedro revelou a Jesus sua fragilidade. O mestre sabia que tudo aquilo era falácia, que aquela postura não representava a verdade sobre o verdadeiro eu do apóstolo. As vezes agimos como Pedro, queremos impressionar àqueles que estão ao nosso redor.Mas a verdade sobre nós, se revela na solidão de nossa existência, se manifesta no apagar das luzes, na hora em que todos estão dormindo, e nós não conseguimos dormir.
James Masterson afirma que “faz parte da natureza do falso “eu” nos impedir de conhecer a verdade sobre nós mesmos, de penetrar nas causas profundas de nossa infelicidade, de nos vermos como realmente somos: vulneráveis, medrosos, apavorados e incapazes de deixar que o “eu” verdadeiro se exponha”. Assim, preferimos mascarar nosso caráter, projetar uma imagem falsa sobre nós é mais conveniente que deixar o eu verdadeiro se manifestar. Quantos relacionamentos conjugais acabados, falidos, mas aparentemente tudo vai muito bem. Quantos ministérios pastorais fundamentados em sombras, em mídia, em markenting, mas nas entrelinhas, na essência, há muita frustração. Pois as pressões para termos grandes igrejas, para sermos famosos, para sermos reconhecidos, para termos sucesso ministerial nos empurram para o falso “eu”, que se alimenta disso. As imagens falsas se alimentam do “status quo”, do frenesi ministerial, do grande cantor, do grande pregador, do grande orador, e nesse lance de ser grande nos perdemos diante da simplicidade do evangelho. Deus não se impressiona com essas coisas, com essas grandezas, certa vez Jesus afirmou aos seus discípulos, depois que eles voltaram da missão dos setenta (70) empolgados e vibrantes com tudo que tinha acontecido naquela missão, “Eu lhes dei autoridade para pisarem sobre cobras e escorpiões, e sobre todo poder do inimigo, nada lhes fará dano. Contudo, alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus”, Lucas 10:19-20.
Não adianta tentar viver a vida cristã, fundamentado em falsas expectativas sobre nós, sobre a igreja e sobre as pessoas ao nosso redor. Para C.S. Lwuis “o homem é um rebelde que precisa render-se”. Meu propósito com essas reflexões, é o de que você renda-se ao senhorio de Jesus e submeta seu falso “eu” ao domínio de Cristo. O evangelho não serve para ser vivido com máscaras, com falsas expectativas sobre a natureza humana, pelo contrário, o evangelho tem que ser autêntico, verdadeiro, projetado sobre a imagem de Jesus crucificado, pois ele disse: “eu sou a ressurreição e a vida”. Isto significa que Nele podemos viver a possibilidade de morrer, e ao mesmo tempo ressurgir em novidade de vida. Por isso, precisamos levar para a Cruz de Cristo, esse impostor que está dentro de nós, mentiroso, falso, enganoso, narcisista, orgulhoso, idólatra, hipócrita, a fim de que nasça a possibilidade de uma nova vida em Jesus.
A vida da igreja está na imagem de Jesus Cristo, por isso, ela é chamada para projetar-se Nele. Não existe igreja sem que haja morte e ressurreição. Somos um milagre operado pela graça irresistível e nesse evangelho não existe lugar para máscaras, para hipocrisia, para rivalidades, para disputas, para concorrência, para grande nem pequeno, para primeiro nem último, Ele é tudo em todos. Nele vivemos, existimos e nos movemos. Que Deus nos ajude a vencer a síndrome do falso eu.